Presidente Manuel Rosa está demissionário, há contestação interna de um grupo de bombeiros e o comandante Paulo Santos demitiu-se.
Há mais de um ano que a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alcanede vive uma crise directiva, sem perspectiva de eleger novos corpos sociais. O presidente, Manuel Rosa, está demissionário, mas em funções para aguentar o barco. A juntar à falta de soluções directivas deu-se agora a demissão do comandante Paulo Santos, com o segundo comandante, Joaquim Santos, a solicitar a passagem ao quadro de honra, solidarizando-se com o seu superior.
Para agudizar a situação, um grupo de 45 bombeiros contestou a gestão do presidente e exigiu a sua demissão na última assembleia-geral, como já tinha feito em abaixo-assinado há cerca de um ano.
Como um mal nunca vem só, a associação debate-se ainda com uma grave crise financeira. Há quase um ano que a Câmara de Santarém não paga a verba mensal protocolada e a dívida do Hospital de Santarém também se acumula. Fornecedores de oxigénio e combustível esperam há meses por pagamentos.
Paulo Santos esteve à frente dos bombeiros durante dez anos e dois meses. Demitiu-se como funcionário e deve confirmar a sua demissão como comandante da corporação até 8 de Abril. Diz que a sua saída é uma forma de se mostrar solidário com a casa que dirigiu em termos operacionais mas a falta de condições também pesou na decisão.
“Não há ninguém a apoiar a direcção, apenas Manuel Rosa tem dado a cara. Estas dificuldades reflectem-se na operacionalidade dos bombeiros. Temos duas bombeiras grávidas, uma delas socorrista de uma ambulância, e não conseguimos reforçar o quadro. Temos duas ambulâncias, uma de 1994 e outra de 2000, presas por arames, não há investimento na frota. Além disso, desde Janeiro que os funcionários têm recebido vencimentos a conta gotas. Numa associação como esta tem de haver uma direcção forte, que organize acções de angariação de fundos, já que o dinheiro nunca chega”, explica Paulo Santos, acrescentando que também não se sentia bem a receber um vencimento sabendo das dificuldades. Para o agora ex-comandante, a população de Alcanede deve ficar alerta para a situação directiva da instituição.
“Pessoas não se chegam à frente”
Manuel Rosa reconhece os grandes problemas causados pelos atrasos nos pagamentos por entidades como o hospital e a Câmara de Santarém. Da autarquia, o protocolo mensal que prevê o pagamento de 6.500 euros não é cumprido desde Maio de 2010.
“Apesar de tudo o problema é sobretudo directivo. Sucedem-se as assembleias e não há listas. As pessoas sabem criticar mas não se chegam à frente. Para integrar listas aos órgãos sociais é preciso ter seis meses de associado”, conta Manuel Rosa, lembrando que existem cerca de 700 pagantes.
Os dez funcionários da casa têm recebido os vencimentos aos poucos e têm subsídios de férias e de Natal em atraso. “Este mês ainda não temos qualquer perspectiva de pagamento”, reconhece Manuel Rosa, lembrando que é preciso que mais gente ajude a organizar iniciativas de angariação de fundos sempre imprescindíveis àquele tipo de entidades.
Recorde-se que há cerca de um ano 45 bombeiros da casa subscreveram um abaixo-assinado a criticar e exigir a demissão da direcção. Na assembleia-geral de 15 de Março, alguns desses bombeiros reiteraram críticas.
Quezílias afastam bombeiros
Fonte dos bombeiros contestatários lembrou O MIRANTE que há cerca de um ano a promessa dos actuais corpos sociais darem a vez a outros não foi cumprida, com a agravante de não se terem realizado eleições pelo facto de os estatutos da associação não estarem registados. “Além disso temos vindo a perder bombeiros socorristas ao longo dos anos devido a quezílias, a logística de apoio aos bombeiros em termos operacionais, como abastecimento de gasóleo e refeições aos bombeiros após várias horas em grandes fogos. Além das dificuldades conhecidas com ambulâncias, pagamentos a fornecedores, pagamento de ordenados às prestações”, comenta o bombeiro, dizendo esperar que apareça uma nova lista.
Autarcas confiantes na resolução do problema directivo
O presidente da Junta de Freguesia de Alcanede está confiante que a crise directiva na associação terá fim à vista em breve, no seguimento de reunião que houve, após a última assembleia, entre a junta de freguesia, o vereador da câmara com o pelouro da protecção civil, António Valente, e os membros dos órgãos sociais. “Sei que há uma lista que está feita. Esperemos que se apresentem a eleições. O que não faz sentido é exigir-se a demissão de órgãos sociais sem ter alternativas”, conclui Manuel Vieira.
Também António Valente está convicto que se chegará a bom porto. “Desejo que o assunto seja resolvido com a maior brevidade e lamenta-se a demissão do comandante, mas a vida segue e segundo sei está previsto que possam ser nomeados interinamente elementos para estabelecer o comando dos bombeiros”, referiu a O MIRANTE.
Na questão financeira, António Valente reconhece que o atraso na liquidação das verbas do protocolo possa causar alguns problemas mas lembra que uma associação não deve depender exclusivamente das verbas da autarquia
Fonte: O Mirante
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