Apostar numa gestão eficaz e na articulação entre as equipas de intervenção de combate aos incêndios da protecção civil e das autarquias parece ser a solução para que o sucesso do combate aos fogos florestais - que este ano sofreu uma redução de meios em relação a 2010 - seja um facto consumado.
Numa altura em que o contexto político e financeiro do país o exige, o dispositivo de combate aos incêndios florestais, ontem apresentado pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), vai suportar uma redução de 8% para os meios humanos, permitindo que o Estado poupe 1,5 milhões de euros em relação ao ano passado. São menos 775 elementos terrestres que em 2010, para a fase Charlie, de 1 de Julho a 30 de Setembro, um investimento que não ultrapassa os 17 milhões de euros. em recursos humanos.
A época é considerada a mais crítica para os fogos florestais, mas os 9210 homens disponíveis para este ano são, de acordo com o vice-presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP), capazes de os controlar, desde que as condições meteorológicas o permitam. Sérgio Carvalho, também presidente do sindicato daquela associação, acredita que, "se houver uma boa gestão, pode vir a funcionar", diz ao i. No entanto, afirma que atingir os objectivos pretendidos depende "de um pré-posicionamento de meios e de uma aposta na profissionalização dos bombeiros".
Existem, diz o sindicalista, "cerca de 40 mil bombeiros, mas muitos são voluntários. Não sabemos se estão disponíveis", pelo que aplicar uma estratégia não é tarefa fácil. Sérgio Carvalho defende por isso que é essencial existir uma articulação entre todas as entidades: "As autarquias têm um papel fundamental. Há muitas câmaras que se desresponsabilizam", diz.
Os meios terrestres não foram os únicos contemplados com cortes de verbas.
Menos meios aéreos Também os aéreos sofreram reduções, permitindo ao Estado uma poupança na ordem dos 10 milhões de euros, comparando com 2010. A quantia investida em aeronaves totaliza os 45 milhões. De acordo com a ANPC, há 41 aviões ou helicópteros para este ano, contra os 56 do ano passado. O Verão de 2011 conta com 34 helicópteros médios e ligeiros, destinados a ataque inicial, cinco helicópteros pesados e dois aviões anfíbios para ataque ampliado. A diminuição de recursos não preocupa Sérgio Carvalho: "Mesmo com a redução, a resposta será mais eficiente que em situações anteriores porque houve uma aprendizagem", considera.
Evitar custos de qualquer tipo é uma medida imprescindível para os tempos que se avizinham. Sérgio Carvalho esclarece que há viaturas terrestres e aéreas suficientes em Portugal. O mais preocupante, diz, "é a falta de meios humanos", que obriga a que as equipas de intervenção corram o país de norte a sul. Para rentabilizar recursos seria necessário que "os bombeiros se deslocassem de autocarro ou de comboio, e utilizassem as viaturas dessas zonas". Desta forma "havia menos gasto de combustível, além de isso permitir que os bombeiros chegassem menos cansados aos incêndios".
Prevenção De acordo com vários especialistas, a falta de medidas de prevenção resulta em incêndios florestais. Sérgio Carvalho vai mais longe e afirma que este trabalho "tem de ser feito no Inverno". O vice-presidente da ANBP admite que é indispensável criar "uma mudança cultural e estrutural". Segundo o especialista, se a prevenção for realizada no Inverno, as populações "vão ter mais noção" no Verão. O sindicalista acredita que "os próprios habitantes são, muitas vezes, o risco em si", uma culpa que atribui às autarquias, que muitas vezes não promovem informação: "As câmaras têm de aceder a coimas junto de quem não limpa os terrenos. Têm de alertar, e a informação deve ser continua." A mudança exige tempo. Sérgio Carvalho acredita que são necessários pelo menos dez anos, para que a prevenção aos incêndios seja encarada de outra forma. Para isso, garante, chegou a altura de "adoptar novas metodologias".
Fonte: Jornal i
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