"Às 06H55, recebemos uma informação da central a indicar que estava a sair um fumo cinzento pela parte superior do reator 3. Ordenamos a evacuação dos trabalhadores que se encontravam nas imediações”, descreveu um responsável da empresa.
É o incidente mais grave desde quarta-feira na central nuclear. O sismo de 9, na Escala de Richter, seguido de tsunami, há 10 dias, provocou a interrupção do funcionamento dos seis reatores, uma vez que falhou a eletricidade e os geradores a diesel de recurso foram submersos. Em consequência, o sistema de refrigeração foi interrompido e os reatores aqueceram demasiado, tendo começado a libertar gases tóxicos na atmosfera. Uma solução adotada pelas autoridades para evitar o aquecimento e eventuais explosões foi bombear os reatores com água do mar, sabendo que esta inutilizaria os equipamentos.
O primeiro-ministro sustenta que os esforços para estabilizar a central apresentam progressos regulares mas muito lentos. Foi restabelecida a eletricidade para os seis reatores, mas o seu funcionamento ainda terá de ser testado, antes de ligada a nova forma de alimentação. Esta operação poderá demorar três dias, enquanto continuam a ser bombeados com água do mar.
O balanço oficial de vítimas aponta para 8450 mortes e 12931 desaparecidos, embora a polícia diga que só na região de Miyagi ainda não tenham sido encontradas cerca de 15 mil pessoas. As autoridades admitem que possam ter perecido mais de 220 mil pessoas.
As autoridades anunciaram, entretanto, que a central vai ser definitivamente encerrada, logo que esta situação de crise fique controlada. Segundo a agência France-Press, que cita o jornal “Asahi Shimbun”, o elevado nível de radiações faz com que seja necessário cerca de uma década para desmantelar a central de Fukushima.
Organização Mundial de Saúde agrava discurso sobre consequências na saúde
Sete pessoas que participam nas operações em Fukushima estiveram expostas a um nível de radiação superior a 100 milisievert, a partir do qual aumenta o risco de aparecimento de cancro.
A venda de leite e espinafres produzidos em quatro zonas próximas da central nuclear foi proibida, em virtude dos elevados níveis de radioatividade.
O ministro da Saúde também a que se reduza o consumo de água da torneira. “Não tem efeito imediato na saúde, se a água for consumida por um curto período”, mas “por precaução, recomendamos aos habitantes para que se abstenham de a beber”, afirmou um elemento do ministério japonês da Saúde.
Depois de um discurso muito moderado, a Organização Mundial da Saúde admitiu que a deteção de radiação nos alimentos era mais “séria” do que inicialmente foi previsto. “É muito mais sério do que alguém pensou nos primeiros dias, quando pensámos que este problema estaria limitado a um raio de 20 a 30 quilómetros”, afirmou um responsável. Numa cidade situada a 40 quilómetros de Fukushima foi detetado um nível três vezes superior ao limite legal.
O Banco Mundial revelou que os efeitos do sismo e do tsunami poderão custar cerca de 4 por cento do Produto Interno Bruto japonês. Os estragos estão avaliados em cerca de 168 mil milhões de euros e o crescimento da terceira maior economia mundial será afetado negativamente por cinco anos.
Tokyo Electric admite ter falsificado resultados
Duas semanas antes do acidente na central nuclear, a empresa Tokyo Electric Power reconheceu à entidade reguladora ter falsificado dados sobre registos de controlo das instalações, nomeadamente a verificação de 33 peças nos seis reatores nucleares que, de facto, não foram inspecionadas.
“O plano de controlo das instalações e a manutenção eram inapropriadas”, com “uma insuficiente qualidade de inspeções”, concluiu a agência de segurança nuclear. No entanto, esta agência escrevia a 2 de Março que considerava não existir um risco imediato de segurança, em virtude da falta de vistorias. A falha do sistema de recurso de eletricidade é um dos elementos centrais deste desastre.
A empresa Tokyo Electric foi acusada, em 2002, de ter interrompido temporariamente a inspeção de 17 reatores nucleares, incluindo os da central de Fukushima.
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