sexta-feira, 11 de março de 2011

Portugal não tem um sistema de alerta de tsunamis

O tsunami gerado pelo grande sismo do Japão veio tornar evidente que em Portugal – que em 1755 também sofreu os efeitos devastadores de uma onda gigante de origem sísmica – continua sem um sistema de alerta.


"Portugal tem de estar preparado. Mas não está”, diz Maria Ana Baptista, especialista em tsunamis do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa e do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa. “Fizeram-se muitos progressos do ponto de vista da detecção. O Instituto de Meteorologia (IM) é capaz de determinar a magnitude, a localização e a profundidade de um sismo em cinco minutos. Se a magnitude for superior a 6,5 [na escala de Richter], se o epicentro for no mar e se a profundidade [na crosta terrestre] for igual ou inferior a 30 quilómetros, neste momento o IM pode enviar uma mensagem à protecção civil”, refere Maria Ana Baptista, que coordena, com o sismólogo Fernando Carrilho, do IM, o Grupo para a Implementação do Sistema de Alerta de Tsunamis em Portugal. 

Depois de o IM lhe transmitir as mensagens de aviso, é a Autoridade Nacional de Protecção Civil que tem poderes para difundir avisos à população portuguesa. “Mas é preciso que o IM tenha nas suas atribuições legais essas funções. Temos tentado junto das autoridades que tenha esse mandato”, acrescenta Maria Ana Baptista. “O Governo ainda não disse que Portugal vai construir o seu centro de alerta. Tem havido outras prioridades.”

Maria Ana Baptista foi quem simulou, pela primeira vez, o tsunami que se abateu nas costas portuguesas, espanholas, marroquinas e até das Caraíbas, em Novembro de 1755. Com uma magnitude estimada de 8,7 e 8,8, este sismo está entre os mais fortes de que há memória na Terra. O tsunami demorou apenas 15 minutos até ao Cabo de São Vicente, aí com uma onda de dez metros de altura (também agora no Japão há registo de que numa praia de Sendai, na perfeitura de Miyagi, o tsunami chegou com dez metros). E 25 minutos após o sismo, já atingia a zona de Oeiras, com uma onda de seis metros, para em seguida avançar pelo estuário do Tejo. Desde o sismo até à inundação de toda a zona ribeirinha da cidade de então, passaram-se cerca de 90 minutos. Nessa Lisboa do século XVIII, a água avançou 250 metros terra adentro. As zonas mais atingidas foram o Terreiro do Paço e o que é hoje o Cais do Sodré. Estima-se que, em Lisboa, só o tsunami causou a morte a 900 pessoas.

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