Japão - Imperador diz-se “muito preocupado” numa aparição televisiva inédita

As estações de televisão interromperam a programação para mostrarem o imperador descrever o desastre natural como sem precedentes

Numa comunicação televisiva inédita, o imperador japonês Akihito afirmou-se hoje “muito preocupado” com a crise vivida no país. Cinco dias após a catástrofe, o imperador pediu aos japoneses para "não abandonarem a esperança". Uma comunicação onde o imperador aparece sentado é normalmente reservada a crises graves e momentos de guerra, revela a agência de notícias Kyodo.

Numa aparição televisiva inédita, Akihito indicou, em directo perante as câmaras, que os seus pensamentos e orações estão com o seu povo. “Espero, do fundo do meu coração, que as pessoas dêem as mãos e se tratem com compaixão e que consigam ultrapassar estes tempos difíceis”, disse o imperador, de 77 anos.

Pelo menos para os mais velhos, a mensagem do imperador fez lembrar uma outra mensagem, divulgada na rádio a 15 de Agosto de 1945, quando o pai de Akihito, o imperador Hirohito, anunciou a rendição do país na II Guerra Mundial. Foi a primeira vez que a voz de um imperador japonês se fez ouvir na rádio.

Akihito subiu ao trono depois da morte do seu pai em 1989.

"Este sismo foi pior do que o Grande Sismo de Kanto (em 1923)", disse Miiko Kodama, especialista no estudo dos Media. "É claro, nada vai mudar por causa da mensagem (do imperador Akihito). Mas aqueles que acreditam no imperador serão encorajados", contou à Reuters.

Nas palavras do primeiro-ministro Naoto Kan, o Japão vive hoje a pior crise desde o final da Segunda Guerra Mundial, quando o país teve de ser reconstruído depois da derrota devastadora.

Entretanto, as autoridades têm a braços uma iminente catástrofe nuclear, após a série de explosões e incêndios que têm afectado a central nuclear de Fukushima I. Akihito admitiu estar "profundamente preocupado" com a situação na central.

Milhares de pessoas estão ainda desaparecidas e teme-se que tenham morrido dez mil pessoas em consequência do tsunami que varreu algumas localidades do nordeste do Japão. "O número de mortos e de desaparecidos aumenta de dia para dia e não podemos saber quantas vítimas acabarão por existir. A minha esperança é que o máximo possível de pessoas estejam a salvo", acrescentou o imperador.

As estações de televisão interromperam a programação para mostrarem o sóbrio imperador considerar este um desastre natural “sem precedentes” que provocou uma crise nuclear "imprevisível". Segundo a agência Kyodo, esta foi a primeira vez que o imperador decidiu comunicar na televisão os seus sentimentos ao país. Esta gravação surgiu porque o imperador queria muito falar directamente com o povo, dado estar muito preocupado com a situação no país.

Akihito, na sua primeira intervenção pública desde o sismo e tsunami, na sexta-feira, fez saber que reza para que todas as vítimas do sismo possam ser salvas.